Sejam todos bem-vindos, especialmente àqueles que amam o desporto e esta modalidade em particular. Criamos este Blog, no intuito de irmos narrando as nossas aventuras e estados de espírito, mas acima de tudo, partilharmos experiências, procurando fazer novas amizades.
A todos cumprimentos desportivos.

Os Flechinhas

terça-feira, 23 de novembro de 2010

23.º Grande Prémio ARCD Mendiga

Pelo 2.º ano consecutivo participamos nessa belíssima corrida, realizada na Freguesia de Mendiga, localizada em pleno planalto central, entre a Serra de Aire e a Serra dos Candeeiros.

Levantámo-nos bastante cedo, com partida marcada do centro de Vila das Aves pelas 06:00 horas da manhã e apesar da longa viagem de ida volta de cerca de 600 km, esta acabou por se realizar no melhor dos espíritos de amizade e camaradagem, existente no seio desta Irmandade. Chegados e depois de levantar os respectivos dorsais, bem como, a compra da original senha para o almoço convívio a ter lugar no final da competição, tivemos ainda muito tempo para descontrair pelas redondezas, podendo apreciar esta belíssima paisagem, bem como, usufruir de toda a tranquilidade que este lugar proporciona.

Relativamente à prova e como já dito em anterior publicação este é um dos melhores percursos de Atletismo que já tive o privilégio de realizar, tanto pelo seu excelente traçado, como pela enorme beleza envolvente. Pessoalmente realizei um dos melhores tempos de sempre para a distância em causa (16700 m), cerca de 1:07h, com um ritmo bastante regular, apesar do desgaste ainda bem presente e resultante da Maratona de Atenas realizada recentemente. Relativamente aos outros atletas, o Luís realizou também uma boa prova numa 1:09h, acusando apenas alguma falta de ritmo. O duelo particular entre o Joaquim e o António, desta feita foi ganho pelo Joaquim (1:14h), beneficiando este da pequena “gripe” que apoquentava o seu adversário! O Manuel como habitual e estando num patamar acima destes atrás referenciados, passeou classe (1:06h), colocando-se “sem dificuldade” á frente desta medíocre concorrência! No final e como cereja no topo do bolo, tivemos a oportunidade degustar um saboroso bacalhau a murro, partilhando mais uma vez excelentes momentos de companheirismo.
DS

sábado, 6 de novembro de 2010

A terra dos Deuses!

A demora na apresentação deste “post” deve-se, essencialmente, ao facto de ser necessário algum tempo para assimilar e digerir todas as emoções vividas nesta grande viagem que, por sinal, ainda estão bem latentes no momento em que redigo esta crónica.
Arrebatador! É, sem dúvida, a palavra ideal para descrever tamanho acontecimento, senão vejamos:
Sexta-feira 29/10 - Viagem com início marcado para 9:55. Encontrámo-nos no aeroporto, depois de nos despedirmos das respectivas famílias. Depois de um atraso de cerca de 1 hora dentro do avião da Portugália que, devido a uma avaria eléctrica num dos fornos do avião, fomos obrigados a mudar de aeronave. Resolvido o problema, seguimos tal como planeado rumo a Milão onde nos esperaria uma escala de cerca de 4 horas, aproveitada para fazermos alguma alimentação, bem como para um joguinho de cartas na versão de “Sobe e Desce”… de registar que o mesmo foi ganho por mim, começando assim um fim-de-semana na senda das vitórias como veremos mais à frente. Lol…
Agora num avião da Aegean das linhas aéreas Gregas, voávamos finalmente para Atenas, passando por cima dos Alpes e usufruindo desta forma de uma paisagem ímpar e indescritível.
Curiosos com um indivíduo que usava uma t-shirt da meia maratona de Lisboa, logo quisemos saber mais... Tratava-se de um conterrâneo chamado João que mora em Sintra (que bela cidade…) e viajava sozinho para Atenas para também ele correr a maratona. Depois de alguns dedos de conversa, ficamos ainda mais surpreendidos quando o João nos disse que nunca tinha feito nenhuma Maratona… nem treinos que se aproximassem disso e que apenas tinha realizado duas meias-maratonas… Aqui estava um homem de grande coragem, que tal como Philipedes, ambicionava realizar um acto heróico!
Chegados ao aeroporto de Atenas já cerca das 22 horas, rapidamente nos dirigimos para o Metro com destino ao nosso hotel pois a viagem demoraria ainda cerda de 1 hora. É nesta altura que conhecemos o Morgan (americano)… um autêntico cidadão do mundo, pois passa uma grande parte da sua vida a viajar, não em trabalho, mas sim em lazer, vivendo intensamente e partilhando experiências de vida com os mais diferentes povos deste planeta. É gratificante conhecermos pessoas assim, tão disponíveis para socializar e trocar momentos de verdadeira partilha.
Depois de devidamente instalados, quisemos sentir o pulso à cidade, dirigindo-nos de táxi para uma zona central da metrópole, desde logo para jantar mas também para podermos sentir a forma como os gregos se divertem numa agradável noite de sexta-feira. Percorrendo estreitas ruas repletas de pequenos bares e tabernas, apinhados de gente nas respectivas esplanadas, bebendo mais um copo por entre muitos dedos de conversa e expressões de alegria. Sentia-se um ambiente realmente intenso e genuíno.
Cansados da viagem, regressamos ao hotel para descansar sem que primeiro passássemos ainda por algumas peripécias com uma mudança de quarto depois de inutilizado o sistema eléctrico do anterior, com o funcionário a achar pouca piada à nossa boa disposição, apesar do dia extenuante que tínhamos vivido. “Quadro eléctrico generali. Não?”
Sábado 30/10 – Apesar das poucas horas de sono, levantámo-nos relativamente cedo, pois pretendíamos aproveitar bem o dia para realizar algumas tarefas, bem como, para visitar a cidade. Depois de tomado o pequeno-almoço, na tranquilidade do salão do hotel, encaminhámo-nos para os Jardins Nacionais, bem no centro de Atenas, onde no edifício de conferências “Zappeion” se exibia uma enormíssima feira ligada a este acontecimento desportivo, com inúmeros expositores locais e internacionais a mostrarem os seus produtos, desde logo: produtos e serviços para os corredores, artigos comemorativos, testes e aconselhamentos médicos, etc. Depois de uma primeira visita rápida a esta exposição, dirigimo-nos para junto do nosso patrocinador oficial, a ADIDAS, que tinha a sua própria estrutura montada nestes mesmos jardins. Fomos recebidos num ambiente de muita alegria e entusiasmo, tal como consta do slogan da ADIDAS:
Your Perfect Run
“Todos os corredores são diferentes. Todos temos especiais capacidades, motivações e diferentes formas de correr. Ajudamos a realizar o seu objectivo pessoal, não importa qual seja”

Ostentávamos agora crachás ao peito onde se podia ler “Team Adidas” e um saco bem preso por um punho cerrado, de quem tinha acabado de conquistar algo de valioso e não o pretendia ver alienado por preço algum, pois continha algo maior para um corredor de Maratona, a sua sagrada camisola, bem como, o respectivo dorsal.
Almoçamos por ali com toda a equipa uma saborosa refeição de carboidratos - providenciada pelo Staff - e passamos mais algum tempo em convívio, conversando com alguns elementos da equipa.
Antes de deixarmos os Jardins Nacionais, quisemos uma vez mais fazer uma nova visita, agora mais detalhada à exposição que honrava esta grande Maratona.
Saídos da estação de Metro com o nome de “Acropoli”, a curiosidade aumentava a cada passo que dávamos com destino esta visita, pois de cá de baixo já ia imaginando o espectáculo que se nos reservava. É realmente espectacular aquela colina rochosa que se erguia diante os nossos olhos com algumas das mais famosas edificações do mundo antigo. E lá estava o imponente Partenon a destacar-se como o templo principal, o Erection (templo dos Deuses) e a vista sobre a cidade… de cortar a respiração!
Atordoados por tamanha beleza e imponência histórica, regressamos ao final da tarde ao nosso Hotel, pois não nos podíamos esquecer que para além do turismo, tínhamos uma Maratona de enorme carga simbólica a realizar no dia seguinte. Jantados e preparado o material para a manhã do dia seguinte, fomos descansar!
Domingo 31/10 - 04:45… o alarme do meu relógio dá sinal! Sim… não estou enganado na hora… tínhamos de nos preparar e apanhar um dos autocarros que partia entre as 05:30 e as 06:30h, que nos levava para o local de partida. Nada mais nada menos, que a cidade de Maratona. Viagem de cerca de 1 hora até ao estádio de Maratona, de onde seria dado o tiro de partida às 9 horas locais. Depois de uma visita rápida às imediações com tempo para algumas fotos e para aquecer o espírito junto da chama Olímpica, refugiamo-nos num albergue repleto de Maratonistas que iam agora aquecendo o corpo junto de uma agradável lareira e uma chávena de café nas mãos. Tivemos aqui a oportunidade para novamente partilhar experiências de vida, desta vez com dois americanos que estavam ali para gozar a sua 35.ª e 36.ª Maratona e apenas lá estavam pelo autêntico prazer de correr e viver novas experiências, não tendo em mente qualquer tipo de prestação ou tempo a realizar. Fantástico!
Apesar de sentirmos alguma resistência em abandonar este local tão aprazível lá nos encaminhámos para os blocos de partida. Somente nesta altura nos apercebemos da grandiosidade deste acontecimento, com cerca de 16 000 atletas de todas as partes do mundo, circulando de um lado para outro, tentando encontrar o seu bloco de partida, fervilhando por todos os lados as mais genuínas emoções.
Momento solene em que todos erguemos o nosso braço direito no ar e juramos pelos princípios olímpicos, retendo-se aqui a máxima de que o importante não é ganhar mas sim participar, bem como o essencial, ou seja, “não é ter conquistado mas ter combatido bem”.
Ora, sem intuito de ganhar mas com muita vontade de combater cada metro à nossa frente, partimos com destino a Atenas, percorrendo o mesmo percurso que Philipedes havia percorrido 2500 anos antes para anunciar ao Rei a grandiosa vitória sobre os Persas, sucumbindo de seguida a seus pés. Pessoalmente, esta foi uma Maratona em que senti várias vezes as emoções à flor da pele, tanto pela carga histórica que a mesma representava, bem como, com o apoio vibrante que fui sentido do povo grego que nos apoiou incondicionalmente ao longo de todo o percurso. Eu tinha preparado muito bem esta corrida e delineado a obtenção de um recorde pessoal dentro das 3 horas 30 minutos, sentindo portanto também alguma pressão extra com a colocação deste objectivo. A prova propriamente dita è realmente muito dura e talvez uma das mais exigentes do Mundo, pois é, em determinados pontos-chave, que esta revela toda a sua dureza, principalmente do km 20 ao 32, onde os atletas têm de vencer uma inclinação bastante acentuada. Contudo, quem aqui chegar em boas condições pode usufruir dos restantes 10 km em inclinação descendente, tornando bastante melhor a parte final da competição. Finalmente, quando entramos dentro do Estádio Olímpico Panathinaiko ou Killimarmaron (em grego, beleza em mármore), que todas as emoções se desprendem de uma forma incontrolada. Jamais me esquecerei da beleza daquele momento, com milhares de pessoas a aplaudir durante horas seguidas os atletas que iam chegando ao fim da sua batalha, exaustos de cansaço, mas reconhecidos na sua grandiosidade por este povo, possuidor de uma das maiores da histórias do Mundo.
Demorei algum tempo a recuperar das emoções, pois, como complemento a tudo isto, ainda havia cumprido o meu grande objectivo, realizando uma magnífica corrida e estabelecendo um novo recorde pessoal de 3h30m. De seguida, chegou o Paulo, seguido do António. Também eles, tocados por tamanha apoteose, realizando ambos provas muito confortáveis, uma vez que ambicionavam apenas, tal como os nossos amigos Americanos, gozar cada metro pisado ao longo deste percurso verdadeiramente histórico.
Recolhidos os nossos pertences, sentamo-nos agora a descansar, a tirar umas fotos para a posterioridade e a gozar o nosso momento, nas bancadas deste belíssimo estádio de Atletismo em forma de “U”, com capacidade para 80000 pessoas sentadas, construído integralmente em mármore branca, proveniente de 566 a.C. O momento era magnânime!
Depois da massagem junto do nosso patrocinador e retemperadas as forças, despedimo-nos deste local sagrado, com destino ao conforto do nosso Hotel.
Aproveitamos o resto do dia para percorrermos mais algumas ruas da cidade e trocarmos, ainda a quente, a experiência e as emoções vividas nas últimas horas.
Segunda-feira 01/11 – Ainda embriagados por tanto, levantámo-nos novamente, agora com destino a casa e à nossa verdadeira realidade, esperando-nos novamente algumas horas de viagem, mais suportáveis, por sabermos ter a família à nossa espera e, no fundo, bem orgulhosos por tudo aquilo que todos os dias conquistamos… o seu grande AMOR.
Um abraço muito especial para o António e para o Paulo, guerreiros valentes, sempre disponíveis para as grandes batalhas!
DS
P.S. – Lembram-se do João? Pois é… também ele acabou por vencer esta árdua batalha.

A Apoteose final!